Música: Cara Estranho
Artista: Los Hermanos
Álbum: Ventura
Direção: Caito Ortiz e Doca Prado
O que considero mais interessante nesse clipe é a total consonância entre a mensagem transmitida pela música e a transmitida pelas imagens. Ambas funcionam em conjunto para causar no espectador/ouvinte a sensação de estranhamento anunciada pelo nome da música.
Não só a idéia de usar um personagem que é literalmente (com o perdão do clichê) "um peixe fora d'água" , mas principalmente por se tratar de uma criatura metade peixe e metade homem, que, pela sua parte humana, ainda consegue causar uma sutil identificação. Isso, paradoxalmente, aumenta ainda mais a sensação de repulsão ao ver o clipe.
Além do personagem, a forma como ele é filmado, os ângulos assumidos pela câmera e a flexibilidade temporal também são recursos que constroem o sentido do clipe. A imagem captada com a câmera no chão, o tempo que volta (o homem-peixe está no chão do banheiro e na imagem seguinte está de volta na cama), as tremedeiras, o suor e o esforço que caracterizam a criatura são todos elementos que causam incômodo, que transmitem angústia e desespero.
A câmera também assume um papel importante quando aparecem os componentes da banda. Eles aparecem, em um primeiro momento, de forma metonímica, sendo filmadas apenas partes do seu corpo. Em seguida, percebe-se um aproveitamento dos recursos visuais, quando ocorre a sobreposição da imagem dos componentes. É interessante perceber que o estranhamento, nesse momento, surge pela dimensão da imagem dos músicos, usada de forma diferente do convencional: aqueles que têm apenas uma parte do rosto filmada são grandes e ocupam todo o fundo da imagem, enquanto aqueles que são filmados de corpo inteiro são muito pequenos e ocupam um espaço desprezível no nosso campo de visão.
Podemos dizer que o fim do clipe completa o ilogismo representado desde o início, ao fazer a fusão entre as imagens da banda tocando a música e do homem-peixe, que até então pareciam não ter relação alguma.
Para "Cara estranho", nada melhor do que um clipe estranho.
Elisa Ramone.
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